Honorários contratuais de advogado não podem ser incluídos em execução de cotas condominiais
Fonte: STJ
A Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidiu que o
condomínio não pode incluir o valor correspondente aos honorários
contratuais de seu advogado na execução de cotas condominiais,
independentemente de haver previsão para isso na convenção.
De acordo com o processo, um condomínio ajuizou ação de execução contra
uma construtora para receber cotas condominiais que estavam atrasadas. No
entanto, o juízo determinou que a petição inicial fosse emendada para excluir
do valor da causa a parcela referente aos honorários advocatícios contratuais.
O Tribunal de Justiça do Tocantins deu provimento ao recurso do condomínio
e mandou que os honorários fossem reincluídos. O tribunal entendeu que o juiz
não pode analisar de ofício o valor da dívida, nem interpretar cláusulas do
contrato no momento do recebimento da petição inicial.
No recurso ao STJ, a construtora sustentou que os honorários contratuais não
devem ser incluídos no cálculo do débito. A executada alegou que, ao
determinar o pagamento dos honorários convencionais além dos honorários de
sucumbência, o tribunal de origem impôs uma cobrança duplicada,
configurando bis in idem.
Natureza jurídica das obrigações condominiais é de direito real
Primeiramente, a relatora, ministra Nancy Andrighi, esclareceu a diferença entre
os honorários sucumbenciais e os contratuais. Conforme explicou, os primeiros
são pagos pela parte perdedora do processo, enquanto os honorários
contratuais são definidos livremente entre cliente e advogado e não estão
incluídos no conceito de despesas previsto no artigo 84 do Código de Processo
Civil (CPC).
A relatora lembrou que a turma já decidiu que, em contratos empresariais,
prevalece a autonomia da vontade das partes quando acordado expressamente
que os honorários convencionais serão pagos pela parte contrária.
Por outro lado, a ministra ressaltou que esse entendimento não se aplica à
obrigação condominial, porque esta, diferentemente dos contratos
empresariais, "possui natureza de direito real, como decorrência do direito de
propriedade, ao qual está indissociavelmente unida como obrigação propter rem".
Cobrança não é válida, mesmo se prevista na convenção
Nancy Andrighi também lembrou que, de acordo com o artigo 1.336, parágrafo
1º, do Código Civil, o condômino que não contribuir com as despesas do
condomínio poderá sofrer penalidades: multa, juros de mora e correção
monetária do valor devido. No entanto – destacou –, o dispositivo não prevê a
inclusão de outros tipos de despesa no cálculo da dívida do condômino
inadimplente.
De acordo com a ministra, não importa se a cobrança dos valores relativos aos
honorários contratuais está prevista na convenção do condomínio, pois a falta
de previsão legal impede a sua cobrança de qualquer forma.
"A natureza distinta dos honorários sucumbenciais e dos honorários
convencionais é um impeditivo para que os últimos sejam incluídos no cálculo
que instrumentaliza a execução", completou.
Leia o acórdão no REsp 2.187.308.